sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Alemanha já cumpre Quioto

"O Ministério do Ambiente alemão anunciou hoje que já atingiu, com quatro anos de avanço, os objectivos de redução das emissões de CO2, fixados pelo Protocolo de Quioto." (Xiça! Jà?! Nem esperam pelos outros?!)

"No ano passado, as emissões alemãs eram 22,4 por cento mais baixas do que em 1990, ou seja, uma meta 2,4 por cento superior ao que lhe foi fixado por Quioto, até 2012." (Ainda por cima baixam mais do que deviam? Cambada de "graxistas"!)

P.S. Como estarà Portugal em 2012? Talvez a juntar trocos para comprar taxas de emissao a outros paises... com alguma ironia provavelmente estarà nessa altura a dar dinheiro à Alemanha! Espero estar enganado e consiguemos atingir as metas. O relatòrio da European Environment Agency (16-10-2008) refere o seguinte:

"In 2006, Portugal's emissions were 38% higher than the base-year level, well above its burden-sharing target of +27% for the period 2008-2012. According to Portugal's projections, with the existing policies and measures, emissions will further increase to reach by 2010 a level 44% above base-year emissions. However, Portugal expects to achieve its target through emission reductions from the implementation of additional measures, use of Kyoto mechanisms (financing emission reduction projects in other countries) and carbon sink activities, reaching a level 23% above base-year emissions."

Un portoghese a Genova
in Publico

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Abre hoje o primeiro centro comercial das Caldas da Rainha apesar dos protestos do comércio tradicional

Noticia interessante, sobretudo para a maltinha das Caldas da Rainha:

Custou 33 milhões, tem 60 lojas e ocupa 16 mil metros quadrados. A FDO, empresa promotora, diz que vai criar 1050 postos de trabalho directos e indirectos nas Caldas da Rainha. Chama-se Vivaci e é o segundo centro comercial daquela imobiliária com sede em Braga.

O empreendimento já comercializou 95 por cento da sua área total e tem como "marcas âncora", entre outras a Zara, a livraria Bertrand, a cervejaria Portugália, o Pão de Açúcar, a Rádio Popular e o Vivacine, um complexo com cinco salas de cinema. Mas independentemente das marcas de prestígio, o centro comercial parece condenado ao sucesso, tal é a euforia pela sua abertura, sobretudo entre as camadas mais jovens.

Menos satisfeitos estão os comerciantes das Caldas que resistiram enquanto puderam à vinda das grandes superfícies para a cidade. Apesar da polémica, que incluiu um apagão de montras e várias controvérsias na assembleia municipal, a autarquia acabou por aprovar, não um, mas dois centros comerciais - o próximo, da Sonae Sierra, nascerá dentro de dois anos no topo norte da cidade e será dedicado a Rafael Bordalo Pinheiro.

Para fidelizar e atrair mais clientela ao centro da cidade, a associação de comerciantes lançou uma estratégia passa por recuperar a imagem que as Caldas da Rainha já teve quando era uma verdadeira cidade termal e o seu nome estava associado às termas, à vilegiatura, ao comércio profissional, ao parque, à cerâmica e à Praça da Fruta.

José Nascimento, especialista em marketing, diz que o problemas das Caldas é ter "uma riqueza cultural muito diversificada, mas não haver uma ou duas coisas que se destaquem". Defende, por isso, a escolha de uma marca forte para a cidade que pode ser o comércio com glamour, isto é, "o bom-gosto, o charme, a sedução, a qualidade e o requinte, mas não necessariamente luxo".

Qual é a vossa opiniao? A favor, contra, querem sò um centro comercial ou acham que dois è pouco?

Aqui em Gènova, cidade com 600.000 habitantes, ainda nao vi um ùnico de grandes dimensoes. Os poucos que se vèem tèem pouco mais de uma duzia de lojas e sao nos arredores. Em compensaçao o centro historico da cidade (o maior de toda a Europa) è um "centro comercial" gigantesco. Podem-se encontrar todos os tipos de lojas e produtos, desde os chineses e indianos atè aos mais requintados, luxuosos e tradicionais. Nao é portanto de admirar que as ruas estejam sempre cheias de gente e o comercio tradicional, local e personalizado se faça do mesmo modo que é feito hà centenas de anos. Tambèm nao me parece que exista grande crise neste tipo de comercio.

P.S. Ainda curioso é o facto de saber que a moda dos centros comerciais em Italia està a começar a pegar, e é importada directamente de Portugal! Actualmente estao a ser construidos novos em Milano, Venezia e Brescia, por uma empresa portuguesa, a Sonae-Sierra! Sei que existe um "especialista" em centros comerciais que frequenta este blog. A opiniao dele é aqui esperada ! hehe

Un portoghese a Genova

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mais de metade dos resíduos urbanos do país continua a ir para os aterros

Visto que este blog é frequentado por muitos Engenheiros do Ambiente, aqui vai uma noticia relativa ao tema:

No ano passado foram produzidas em Portugal cinco milhões de toneladas de resíduos urbanos, segundo dados dos sistemas de gestão. Cerca de 3,1 milhões de toneladas foram directamente para os aterros, ou seja, mais 400 mil toneladas do que o previsto no plano estratégico para o sector para 2007-2016 (PERSU II), cujo relatório de acompanhamento será apresentado hoje.

Segundo o “Jornal de Notícias” de hoje, a seguir aos aterros (63 por cento), o segundo destino dos resíduos foi a incineração (967,542 toneladas, ou seja, 19 por cento). O plano previa que se podia queima 1,1 milhões de toneladas.

No ano passado entraram mais de 417 mil toneladas de resíduos em sistemas de tratamento mecânico e biológico, para produção de fertilizantes orgânicos. A meta do PERSU era de 382.500 toneladas. Mas o objectivo da recolha de resíduos biodegradáveis não foi atingido. Das 133 mil toneladas previstas registaram-se 72.139.

Relativamente à reciclagem, a recolha selectiva aumentou 20 por cento em relação a 2006 mas nem tudo correu bem. Em 2007 a reciclagem do plástico de embalagens ficou em 70 por cento do previsto (35.581) e a de alumínio ficou em 12 por cento. Mas o relatório sublinha que os objectivos para estes resíduos terão sido sobredimensionados e estão a ser revistos.

P.S. Temos que falar com a Helena Costa e com a Ribau urgentemente! Se até este pessoal se enganou nos càlculos acho que merecemos mais 1 ou 2 valores na disciplina de PVR.

in Publico

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sobre a zona Oeste


Uma análise SWOT (FOFA) do Desenvolvimento da Zona Oeste, pelo grupo de trabalho do Instituto da Democracia Portuguesa.

Ver análise aqui .

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Teixeira dos Santos é o pior ministro europeu das Finanças no "ranking" do FT

O ministro das Finanças português, Fernando Teixeira dos Santos, é o último de um “ranking” criado pelo “Financial Times”, há três anos, que aprecia o desempenho dos ministros europeus das Finanças e que é liderado pelo congénere finlandês, Jyrki Katainen.

O guia do jornal económico britânico baseia-se em informações estatísticas dos países de origem de cada ministro e na opinião de economistas e comentadores. Para o FT, a deterioração do ambiente económico e financeiro nos últimos meses constitui um momento particularmente difícil para quem lidera a pasta das Finanças na Europa.

Na cauda do “ranking”, na décima nona e última posição com 16,4 pontos (contra 3,8 pontos do ministro finlandês), Teixeira dos Santos é penalizado pelo fraco comportamento da economia portuguesa e pela baixa visibilidade da sua presença nas instâncias europeias, justifica o FT. O “ranking” analisa o comportamento dos ministros em três vertentes: testes político, de estabilidade e económico.

Na metodologia adoptada neste “ranking”, o ministro português surge na última posição do teste político, que mede a capacidade de resposta em relação à crise do sector bancário, a capacidade de liderança, incluindo na União Europeia, e a eficácia das suas políticas entre portas.

P.S.Ao inicio confesso que até me deu uma certa vontade de rir, mas depois apercebi-me que esta é apenas mais uma noticia triste das muitas que ultimamente assolam Portugal. Mais uma vez estamos na cauda. Usando terminologia futebolistica, este joga para nao descer de divisao,é o lanterna vermelha.Pena é o facto de ser nosso ministro... para nossa desgraça. Gostava de ver um ranking destes mas em relaçao a Primeiros-Ministros. Isso é que ia ser giro!

Fonte: Publico

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Blogues estão a (re)acender debate sobre as cidades

Os assuntos ligados a cidades são cada vez mais comuns na blogosfera do país. São intervenções que contribuem para a participação cívica e promovem a reflexão.

Há uns anos, um cidadão que quisesse participar de forma activa na vida da sua cidade tinha poucas hipóteses de ser ouvido. Se a vocação fosse muita, poderia tentar entrar no mundo político; se não fosse este o caso, sobravam as hipóteses de recorrer às reuniões da câmara municipal ou tentar entrar em contacto com algum dirigente. Hoje, quem tem algo a dizer sobre a cidade onde vive pode criar um blogue. E já são muitos os que fazem isto.

"Um blogue genuinamente produzido por um cidadão, ou um grupo de cidadãos, sem interesses políticos é uma excelente forma de participação cívica", diz o investigador, realçando que "muitos destes blogues nascem da impossibilidade do comum cidadão publicar nos jornais regionais". "Estes blogues continuam a ganhar terreno e penso que nas próximas autárquicas já serão um importante espaço de debate", completa o investigador. - João Canavilhas, professor de comunicação na Universidade da Beira Interior e investigador no Labcom (Laboratório de Comunicação Online).

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Pensamentos avulso sobre Obama

Ando há 3 dias para escrever este texto. Como não tenho tido tempo para dar um formato decente de continuidade ao texto, optei por publicar estas ideias e pensamentos avulso sobre Barack Obama

i) Foi de facto um momento histórico. Não haja dúvidas. Pensar na América no último século e ver hoje um negro a caminho da casa branca é, sem margem de dúvidas, um momento histórico. O momento histórico não se restringe ao facto de ser o primeiro presidente negro: foi o presidente de sempre eleito com mais votos populares; a onda de apoio popular que se gerou, o uso da internet, os valores monetários doados por particulares; os jovens, até então descrentes em política, que se foram votaram; as palavras esperança e mudança como vectores-chave de uma ideologia; tudo isto é histórico. Também é histórico haver tanta gente mundo fora a torcer por Obama. Ou contra Bush? Creio que a torcer por Obama.

ii)Porque acho que este é o século das mulheres, tenho uma enorme curiosidade em ver qual irá ser o papel de Michelle Obama. Não a imagino só a escolher a cor dos tapetes da Sala Oval, nem a restringir-se à filantropia que reservam ao papel de primeira-dama. Bem sei que o marido ainda nem começou o cargo de Presidente, mas não me admirava num Michelle Obama em 2016 ou, imaginado um mandato de senadora, Michelle 2020. Já vimos este filme com os Clinton. A esta distância fazer estas especulações é ridículo, serve apenas para escrever que estou convicto de que Michelle terá um importantíssimo papel político na América durante e após o mandato do marido.

iii) Confesso que, usando uma expressão de Medeiros Ferreira, também eu sou um “viúvo de Hillary Clinton”. Sempre fui (e sou) um céptico de Obama. Isso não me impede de reconhecer que neste contexto de crise e falta de confiança ele é uma escolha acertada. E não tenho muitas dúvidas, será um bom Presidente.

iv) Ainda durante as primárias se falava numa possível candidatura de última hora de Al Gore. Arranjado um novo Messias (Obama), já ninguém se lembra do Al.

v) Temo que Obama venha a ser mais isolacionista do que se pensa. A prioridade focada na economia, as opiniões de Obama sobre comércio externo, por tudo isso, não sei se não nos iremos desiludir.

vi) JF Kennedy não viu o homem chegar à lua. Bobby Kennedy nunca chegou a presidente. Luther King não viu o seu sonho ser concretizado. Só espero que Obama leve os seus 2 (!) mandatos até ao fim. Imaginem todos os Rednecks, KKK’s, Supremacias brancas, paramilitares e maluquinhos racistas em geral nos EUA a verem aquilo que mais odeiam (um negro) a comandar aquilo que mais amam (US of America). Decerto que todos já pensaram nisto, curioso é como o assunto (ainda) é tabu na comunicação social.

vii) O partido republicano ficou numa posição altamente fragilizada após estas eleições. A escolha de Palin e algumas posições de McCain reduziram o partido a um eleitorado branco e altamente conservador. Como sobreviverá o Partido nos próximos 4 anos?

viii) O discurso de Obama na noite de vitória é um texto fantástico de politica e de humanismo. Também esse ficará para a história.

ix) Economia, Israel/Palestina, Guantanamo acho que vão ser das áreas que as expectativas em relação a Obama mais serão goradas.

x) Já estou farto da Direita Europeia e Portuguesa incomodada com o fascínio de tanta gente por Obama. Até parece que se esqueceram como pateticamente alegres andaram, eles a Direita Europeia, com Sarkozy há uns tempos.

xi) Os apoiantes de Obama depositam tanta esperança nele que qualquer deslize irá ser uma frustração enorme. Obama é humano e irá errar. Qual será a reacção do eleitorado que nele votou?

xii) A democracia dos EUA é absolutamente fascinante e grandiosa, digam o que disserem.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Triologia engraçada por vezes - Estado, Direito e Democracia

- Pode-se, mas não se deve:


- Não se pode, mas para alguns deve-se:


Depois a história desenrola-se:

- entre os que ponderam;
- os primeiros responsáveis hierárquicos que vão dizendo: epá vejam lá isso rapaziada;
- as vítimas que passam a agressores, dizendo: tou-me borrifando;
- e os amigos das vítimas que passam a agressores, a pensar: já agora... deixa lá ver no qu'isto dá.

Entretanto aparecem os neutros a pedir por alguém que por aqui também já temos pedido noutras ocasiões, embalados pelas vítimas que, tendo tanto à volta para olhar e tão pouco que fazer, têm a certeza que os Democratas são eles, e que "independentemente de algumas fragilidades jurídicas que possam apontar ao requerimento", vão confundindo o Estado e o Direito Democrático... com maioriazinhas.

PS (e este é mesmo post scriptum, aproveito a correcção gráfica para acrescentar) - Afinal parece que o nosso Presidente tem estado em contacto com Representante da República na Madeira.

Josè Saramago no Pùblico

O romancista discorda de Churchill quando este afirmava "a democracia não é grande coisa, mas é o menos mau dos sistemas".
"Não parece, porque quando o espaço da democracia passa a ser ocupado por algo que não tem nada que ver com a democracia, que é o peso, a influência, o poder do dinheiro, não há democracia que resista. E além disso, nós nunca vivemos em democracia, e não vivemos agora mesmo em democracia, vivemos numa plutocracia, o governo dos ricos, para que os ricos ganhem mais e para que os pobres sejam cada vez mais pobres e cada vez em maior número. Esta é que é a realidade", sublinhou.
"A democracia, por favor... Nós vamos às eleições, pomos lá um papel e, a partir desse momento, não sabemos para que é que vai servir esse papel, porque quem ganhar as eleições, depois de ter durante a campanha prometido este mundo e o outro - não vai cumprir, já sabemos... Basta isto: um político português, na altura primeiro-ministro - de quem não vou dizer o nome por caridade - declarou alto e bom som que a política é a arte de não dizer a verdade. Quando um político se atreve a dizer isto e a pensá-lo, porque está convencido de que é assim, a democracia não está em muito boas mãos", comentou.
"Há que tomar a sério a vontade dos cidadãos, que não têm outra coisa para fazer valer a sua opinião se não o voto", concluiu.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Presunção e água benta, cada qual toma a que quer


Ao Ricardo:

Começando pelo fim. É muita presunção tua achar que as ilegalidades, que as injustiças, só te afectam a ti. Aprecio o tom particular do teu post.
Por acaso, mas só por acaso, eu e a minha família já fomos vítimas de actos administrativos relativos a construções e demolições que além de injustos, foram altamente danosos para a nossa vida financeira (como é óbvio não irei entrar em pormenores aqui). Quem nunca o foi? Nos últimos 5 anos, semestralmente o meu pai tem que se deslocar a Lisboa para tratar de “um papel” que ninguém sabe onde está. Todos os anos, em determinada altura, a sobrevivência - saliento a gravidade da palavra sobrevivência - financeira dos meus pais é colocada em causa pelo juízo arbitrário de um funcionário público. Este processo existe há pelo menos 6 anos, e prolongar-se-á nos próximos muitos anos. Na minha situação está em causa, não tanto os tribunais, mas a burocracia e o autismo dos ministérios e secretarias que tomam decisões avulsas sem perguntarem a quem é afectado o que acham sobre o assunto.
Como eu, há de certeza milhares de pessoas que escrevem em blogues e falam em cafés e são afectadas diariamente por decisões erradas, ilegais ou injustas de tribunais, de governos, ou de funcionários públicos. Apesar disso, todas essas pessoas, eu incluído, tentamos manter um juízo critico sobre o que se passa à nossa volta, e não gritar Aqui del rei quando nos pisam os calos.
Portanto, não me venhas dar lições de moral sobre quão mau o estado é para ti.
Mas há aqui uma diferença fundamental. Eu, e muitas pessoas que escrevem em blogues e falam em cafés, não precisamos que nos afectem o quintal (nunca a expressão se adequou tanto) para nos indignarmos, para nos associarmos, para contestarmos, para termos uma postura crítica, para recorrermos aos tribunais para pugnarmos pelos nossos direitos. Já o fiz muitas vezes em quintais que não eram meus. Por acaso, em algumas dessas vezes o Estado de Direito funcionou e eu orgulhei-me de viver neste país. Felizmente há pessoas que, não sendo afectadas por nada em particular, perdem o seu tempo a lutar para mudar as coisas. Tomo-as como exemplo a seguir.
Disse e repito: Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas que vivemos num estado de Direito. Só quem não percebe o conceito de estado de direito não entende o que isso significa. Um estado de direito pressupõe a existência de uma série de pressupostos políticos, de organismos públicos, estruturas político-administrativas, instituições legislativas, jurídicas e policiais, a existência de separação de poderes, etc, etc , que estão bem explicados em vários sítios da Web, não só na wikipédia.
Discutir se vivemos ou não num estado de direito é o mesmo que discutir se vivemos em democracia ou num estado capitalista. Eu não tenho dúvidas que vivemos nos três: Estado de direito, democrático e capitalista. Agora, discutir a condição de existência de cada um é, como já disse, outra história. Mesmo discutir a própria continuidade em termos de existência de cada um nos próximos anos é outra história. Actualmente vivemos num estado de Direito, democrático e capitalista. Estaríamos horas a discutir o (mau) estado de cada um.
Disse e repito: a existência ou não de algo, não deve ser somente avaliada pelo seu estado momentâneo.
Disse e repito: este estado de direito em que vivemos é frágil, tem inúmeras vulnerabilidades, vícios e defeitos, que fazem as populações duvidarem da sua própria existência. É absolutamente urgente resolver os problemas graves que minam o conceito de estado de direito, nomeadamente a Justiça. É fundamental resolver seriamente os problemas da Justiça em Portugal. Hoje! Admito até que o estado de Direito em que vivemos está de tal forma afectado por tantas ilegalidades impunes, por tantos abusos de poder que, repito, a sua existência seja posta em causa. Contudo, saliento a lógica :existência posta em causa, pressupõe existência prévia. Lógica.
Todas as pessoas que são afectadas diariamente por coisas tão diversas que vão desde decisões administrativas, a decisões jurídicas, do salário mínimo ridículo, a expropriações, à saúde, à educação, a tudo o que está mal neste país, todas essas pessoas tem direitos e deveres que decorrem de vivermos num Estado de Direito. Todas essas pessoas, eu incluído, se queixam. Todas essas pessoas, eu incluído, acham que a “coisa está preta”, que os poderosos são demasiado poderosos, que há abuso de autoridade, corrupção e uma escandalosa falta de sentido de estado por boa parte dos políticos. Em “todas essas pessoas” incluem-se todos os que foram vítimas injustas no processo CRIL, que tu tão bem tens vindo a relatar neste blogue. É vergonhoso, lamentável e execrável como todo o processo foi conduzido.
Felizmente existe o poder de livre associação, veja-se o excelente trabalho de cidadania da Comissão de Moradores de Santa Cruz de Benfica (entre outras), para protestar e nos informar destas situações; ainda bem que existe a liberdade de expressão, para podermos discutir as coisas neste blogue e nas mesas do café; felizmente existem tribunais nacionais e europeus para se garantir o cumprimento das leis, se bem que esses tribunais tenham falhas gravíssimas de funcionamento; felizmente existe comunicação social para divulgar estes e outros casos (o facto de primeiro se chamar a TVI do que o PGR, tem a ver que com o facto da TVI denunciar, não julgar, um acontecimento no jornal da noite do próprio dia, enquanto o PGR instaurar um processo a ser julgado em anos a vir, a as pessoas sabem-nos muito bem); felizmente existe vontade de trabalhar para mudar, e não só criticar, mesmo em ti, Ricardo, sei que existe essa vontade;por tudo isto e muito mais, felizmente vivemos num estado de direito!
Porque se não vivêssemos, tudo o que se passou no processo CRIL não interessava para nada. Nem sequer podíamos ou adiantava estarmos a ter esta discussão.
Todas as injustiças e ilegalidade que ocorrem todos os dias, por todo o país, incluindo o teu quintal, dão-me alento para lutar, para escrever em blogues, para falar em cafés, para me associar, para me filiar, para processar, para continuar a fazer o que faço há anos. Sabendo que pelo caminho, muitas vezes perderei a esperança, desiludir-me-ei, e rogarei pragas a alguns poderosos. Já me aconteceu, espero que continue a acontecer.
Neste caminho continuarei a crer que vivemos num estado de Direito imperfeito como todos os existentes, em que diariamente acontecem ilegalidades e injustiças, inclusive no meu quintal. Até lá, farei o que fiz nos últimos anos: além de escrever em blogues e falar em cafés, actuarei.




P.S.: Gosto muito de discutir o estado das coisas em Portugal. Quem me conhece, sabe-o. A criação deste blog é a prova disso. Mas custa-me perder tempo a discutir coisas que são, para mim e para a maior parte das pessoas, óbvias. E recusei-me a discutir o óbvio nos comentários do outro post porque, de facto, agora não tenho tempo para isso. Até ao fim do mês não deverei escrever nenhum post, só por falta de tempo, não de interesse. Claro que continuarei a ler e a comentar os textos que aqui forem surgindo. Saudações a todos os leitores e autores deste blog.


Era uma vez em portugal (2° Acto) - “A confirmaçao de portugal como país do 3° mundo"

Dia 9 de Outubro de 2008, hora 8:30: Sem qualquer pré-aviso a Estradas de pORTUGAL (EP) chegaram ao meu bairro para começar a “limpeza” dos terrenos. Tocam às portas das moradias marcadas para “abate” e visto muitos dos seus desprevenidos moradores jà se terem deslocado para o trabalho, resolvem à boa maneira de um estado de direito saltar os muros dos quintais e invadir as propriedades. Iniciam as marcaçoes nos quintais que deverão ser expropriados e logo depois avançam com as máquinas para as demolições. Repito, tudo feito sem qualquer aviso legal ou ilegal.

Os moradores presentes alertados pela confusão gerada, juntam-se para pedirem explicações mas sao recibidos pela polícia de um modo muito pouco civilizado. A minha mãe conjuntamente com um vizinho são empurrados e insultados dentro da propriedade privada deste (Foto1)! De referir que não estamos a falar de polícias de base mas altas patentes (confirmado pelas 2 estrelas do policia que arrasta o vizinho dentro da sua própria propriedade privada!). Parece-me a mim que o direito não permite tal coisa. A minha mãe é a senhora que mal se vê e que vai logo atrás rodeada por 3 agentes. Meio agente teria chegado para ela. Esta foto foi tirada logo depois de um acontecimento também ele dramático e relatado por vários órgãos de comunicação. Diz o mesmo vizinho: “Começaram a demolir mesmo com pessoas em casa. Eu próprio tive que gritar porque tinha a minha mulher dentro da construção que eles iam demolir!” (Publico e Jornal Global). De referir que isto tudo deu-se com a policia presente no local e que só não se deu uma tragédia por muita sorte.

Outro vizinho confrontado com o facto de ver indivíduos estranhos dentro da sua propriedade, confronta-os para saber com que direito estavam ali. Dizem-lhe então que lhe tocaram à porta e que lhe telefonaram para casa, como não houve resposta resolveram invadiram-lhe o quintal! O senhor muito calmamente informa-os que não tem sequer telefone fixo instalado. Como esta comédia negra não poderia ficar por aqui, apresentam-lhe o número para o qual supostamente lhe ligaram. Ridículo é o facto desse número não pertencer sequer à área de Lisboa! Mentem descaradamente e sem vergonha na cara. Outro vizinho questiona-lhes para o facto de lhe terem demolido um muro sem terem verificado se haviam condições de segurança para tal. Arrasaram-lhe o muro e nem viram se haviam botijas de gás armazenadas. Poderiam ter provocado uma explosão com o resultado de varias mortes mas nem isso os deteve, tal era a cegueira.

Com a conivência da polícia presente muitos dos trabalhadores e “engenheiros” no local resolvem tirar fotos aos moradores, às casas e quintais a serem demolidos. Como senão bastasse riem-se e gozam da cara e do desespero destes. A minha mãe estupefacta com o acontecimento informa que vai buscar a máquina e tirar-lhes também umas fotos. A polícia entreviu logo e proibiu-a veemente de fazer tal acto. Dois pesos e duas medidas muito estranhas num estado de direito.

Durante as marcações dos terrenos a serem expropriados parcialmente, 2 metros segundo ordens especificas dos tribunais, os “engenheiros” resolvem não cumprir e marcam para além desta distancia, mesmo quando confrontados com a documentação dos tribunais! Segundo eles “devido às compensações e aos arredondamentos”. Esta diferença era suficiente para uma vizinha ficar sem mais uma porta da sua casa. É de referir também que estava a decorrer a audição em tribunal dos moradores relativamente ao processo de expropriação, no âmbito de uma providência cautelar, mas que esta não foi tida em conta por ninguém durante as demolições! Devido a estas e outras ILEGALIDADES os moradores exigem legitimamente a identificação dos “engenheiros” e a licenças de demolição da empresa. Recusam-se a fornecer (obrigados segundo o direito), ao qual a policia quando confrontada com a situação responde: “Não temos nada a haver com isso, estamos aqui para cumprir ordens”. Se a policia não faz cumprir as ordens dos tribunais e não quer saber dos direitos legais dos moradores, o que faz ali? Que ordens acima da Lei estariam eles a cumprir afinal? Parece-me mais uma vez que o estado de direito não está a funcionar.

Uma engenheira civil moradora no bairro resolve então pedir a identificação dos “engenheiros” da obra para fazer queixa à Ordem. Ao que então descobre que os “engenheiros” não o eram realmente! Triste é o facto de muitos destes “engenheiros” quando confrontados para as ilegalidades e as ordens dos tribunais que deveriam cumprir afirmarem: “Nòs vamos demolir tudo e se vocês (moradores) tiverem algum problema com isso depois queixem-se aos tribunais!” (Foto2). Mais uma vez refiro, com a polícia sempre presente. Este é a vossa definição de estado de direito? Minha não é certamente!

Uma vizinha umas semanas antes e já num estado de desespero, aceita uma proposta de indemnização abaixo do valor real da sua moradia. Ela e a EP chegam a acordo e é lhe enviada uma carta registada a confirmar o acordo entre as duas parte. Umas semanas depois é convocada para uma reunião onde a EP informa-lhe que vão lhe dar uma indemnização 40.000€ abaixo do acordado e que não querem saber mais do acordo feito anteriormente! A senhora como na altura não envolveu tribunais na disputa, certamente terá agora que se calar e aguentar com a vontade da EP. Este é apenas um exemplo. Muitos outros moradores foram prejudicados nas suas indemnizações, não se compreendendo porque razão mesquinha o valor a atribuir foi alterado mesmo depois de acordado. Por vezes as diferenças atingiam os 8.000€ não se compreendendo o porquê da mudança. Este montante faz um rombo no orçamento individual dos moradores, mas não è sequer sentido no orçamento de muitos milhões em indemnizações previsto para a CRIL. Tenho um pressentimento que a diferença irá encher os bolsos de algum “defensor” do estado de direito envolvido no processo.

Como chega de falar dos outros vou passar para o meu caso muito particular. Dia 29 de Outubro 2008, vieram as máquinas “tratar” da minha casa. Estando numa situação geograficamente particular, a minha casa vai ficar numa “esquina” da CRIL. Este localização dita que a casa ao lado tenha sido demolida mas a minha fique “só” desprovida de quintal e de parte do prolongamento da casa (menos uma WC). Isto implica na realidade que vá ficar com um muro em betão armado da CRIL, com quase 5m de altura, a 1,5m da janela. De referir que esta zona da CRIL é em vala aberta (ILEGAL) e por onde vão sair os gases e ruídos de 120.000 carros/dia. Para terem uma noção vão passar mais carros ali do que na Ponte 25 de Abril! Logo vou ter uma vista fantástica para o betão para além do facto de nem poder abrir a janela senão ainda morro intoxicado. Reafirmo uma vez mais, é um projecto sem aprovação, reprovado por várias entidades competentes, logo ILEGAL mas promovido pelo governo. Onde está o vosso estado de direito aqui? Sinceramente não sei, digam-me vocês.

Devido à nossa particularidade geográfica a nossa casa vai deixar de ter o apoio da casa vizinha. Com este facto e com as obras em curso, a estrutura vai ser bastante afectada, o que vai implicar obras de reparação caras. Obviamente que deverão estar a interrogar-se pela indemnização. Pois bem, como belo estado de direito que é portugal, a indemnização representa uma parte microscópica do valor real.

Antes da demolição mandámos fazer uma avaliação à casa e foi-nos atribuído um valor. O tribunal envolvido no caso fez ele também uma avaliação e o valor a que chegou era cerca de 70.000€ a 100.000€ abaixo do nosso. Uma diferença substancial que só pode ser justificada pelo “bom funcionamento” da justiça em portugal. Os seus avaliadores não se deram se quer ao trabalho de se deslocarem às habitações. Agarraram nas plantas das casas e fizerem uma avaliação às “3 pancadas”. Concluíram por exemplo que parte da minha cozinha e uma WC eram “anexos”! Fazendo parte da área coberta da casa, não estando separadas desta e apresentado as características referidas, não são certamente simples “anexos”. No entanto e na má fé que a caracteriza, a EP resolveu até este valor do tribunal contestar. No caso particular do meu quintal e da parte da casa já demolidas, a indemnização que nos pretende dar é “simplesmente” menos 80.000€ do valor atribuído pelo tribunal e 130.000€ da avaliação feita pela empresa que contratámos! O caso está em tribunal devendo demorar uns anos até ser concluído. Antes tentámos negociar um valor com a EP, mas após umas “reuniões amigáveis” nunca mais obtivemos qualquer resposta. Bom lembrar o facto de o presidente desta empresa ter vindo para os meios de comunicação social, afirmar que os moradores recusavam-se a negociar e nunca apresentavam propostas (mais uma mentira descarada descrita no jornal Publico). Ainda hoje esperamos resposta à nossa proposta de indemnização feita a 9/09/2008!

Como vêem são valores muito elevados e que podem simplesmente arruinar uma família. Mas isso pouco importa num estado de direito. O nosso caso foi para tribunal mas mesmo sabendo que vamos perder muito dinheiro assim continuará, agora por uma questão de respeito próprio e não por crença no sistema. Tenho a referir que mesmo que ganhemos a causa, já fomos avisados que a indemnização nunca atingirá o valor real da casa e que todas as despesas do caso terão que ser pagas por nós (vão envolver vários milhares de €)! O estado roubou-nos ILEGALMENTE o que é nosso há mais de meio-século. Queremos agora a expropriação total da nossa casa, visto não existirem condições para viver lá, perder o mínimo dinheiro possível (a casa vai desvalorizar-se em 50%), sair da cidade o quanto antes e recomeçar a pagar prestações aos bancos pela nova casa. Um verdadeiro sonho e projecto de vida! Quero ver é quem vai explicar a minha avó a razão pela qual verá tudo pelo qual trabalhou ser destruído, e ajuda-la a escolher quais os bens e moveis que poderá salvar e levar consigo. Talvez também haja alguém que a possa confortar a meio das noites em que acorda a chorar. Hà algum defensor do estado de direito disposto a isso?

Quanto à providência cautelar interposta, ela foi deferida uma primeira vez por “questões processuais”. Uma bela tanga sem nexo que arranjaram para não julgar o caso. Apoiada que estava por vários pareceres, caso fosse a julgamento a obra quase certamente teria que parar. A táctica então montada foi simples, simplesmente não julgar e arrastar o processo! Meteu-se um recurso mas com a morosidade característica do sistema, quando se der o julgamento, e mesmo que seja a nosso favor, já a CRIL estará concluída. Dá-se então mais um dos famosos “actos consumados” onde já nada poderá ser feito. Para os naifes que não entendem o que isto quer dizer resumo: “O que está feito, está feito e agora aguenta-te e não chores”. Pergunto: estado e governo de direito aonde?

A crença no estado de direito é tão grande, que sempre que descrevi às pessoas as “peripécias” aqui relatadas fui sempre confrontando com a mesma afirmação. “Isso è um escândalo. Vocês têm que chamar a TV e fazer barulho na comunicação social!”. Engraçado saber que nem por uma única vez foi-me sugerido o recurso a tribunais, assembleia da república, exposições a presidentes de juntas, câmaras, ministros, comissões parlamentares ou ao Presidente da Republica. Na verdade já recorremos a todos eles durante anos e o resultado foi sempre nulo. Mas torna-se curioso o facto da solução pensada para uma ilegalidade desta magnitude passar sempre pela comunicação social e pelo show-off televisivo. Revela bem a descrença geral sentida pelo direito português. Digo-vos entao: jà apareceu em tudo o que è canal de tv e jornal durante anos, mas como os moradores tentaram sempre recorrer aos mecanismos legais do “estado de direito” e nunca decidiram desatarem aos tiros ou fazer cortes de estadas, os media nunca lhe deram muita importancia. Nao é assim tao bom para as audencias! Nunca se fiem que a TV và resolver os vossos problemas. O Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) fez um relatório que parece ir no mesmo sentido. Concluiu que “58 por cento dos portugueses manifestaram "pouca confiança" nos tribunais, tendo mesmo 21 por cento revelado "nenhuma confiança". Parece que algo não vai bem no estado de direito.

Mais uma MENTIRA:

Em declarações à Agência Lusa, Almerindo Marques, Presidente da EP, afirmava que as acusações de que a CRIL estaria a ser usada como 'bandeira eleitoralista' "não têm qualquer fundamento". Terá o presidente das EP conhecimento do documento do dia 9 de Novembro de 2007 onde se antecipa a conclusão da obra de Outubro de 2009 para Setembro de 2009, um mês antes das eleições. Não será para usá-la como bandeira eleitoralista? Ou terá algum outro objectivo para além da propaganda prevista? De referir que o mesmo governo aprovou, desta vez segundo informei-me legalmente, uma portaria específica para a CRIL que permite ultrapassar todos os limites legais de ruído das obras das 7 às 24h. Tentem dizer aos moradores que durante o próximo ano não poderão dormir mais do que 7h por dia e verão a reacção animadora deles. Certamente o mau humor dever-se-á há falta de horas dormidas. Com esta portaria bonita, no dia 10/10/2008, a EP resolveu terminar o resto da demolição da casa colada à minha, às 7:30 da manhã! Não sei se já acordaram alguma vez com o som e as vibrações de demolições, mas a minha avó de 81 anos acordou assustada a pensar que se tratava de um terramoto, quando na verdade era “apenas” uma parede encostada ao seu quarto que estava a ser arrasada por um bulldozer sem qualquer aviso prévio! Mas neste caso nem me posso queixar muito, está tudo legal segundo a portaria. Mas e o interesse dos cidadãos? Isso já é outra conversa.

Mais umas ILEGALIDADEZINHAS:

Não bastando o facto da Estradas de Portugal (EP), no passado dia 9 de Outubro, ter avançado de forma brutal com as demolições sem qualquer aviso prévio, colocando em risco a segurança e os bens dos moradores, em total desrespeito pelo próprio Tribunal (estava a decorrer a audição dos moradores relativamente ao processo de expropriação, no âmbito de uma providência cautelar), vem agora colocar em sério risco de inundação várias habitações da Rua Comandante Augusto Cardoso (minha rua).

Esta situação de risco, deve-se ao facto de após as demolições efectuadas nas traseiras destas habitações, a EP não ter reposto as mesmas condições de segurança, conforme obriga a lei. No sítio onde anteriormente se encontravam muros de betão com capacidade para suster a água das chuvas, agora encontram-se simples vedações metálicas sem qualquer capacidade de retenção das águas (Foto3). E vocês sabem melhor do que eu que tem chovido e muito.

Perante esta situação iminente de risco, criada pela EP, a qual poderá acarretar danos graves e mais sofrimento para os residentes das respectivas habitações, solicitámos a várias entidades (Governo Civil de Lisboa, Protecção Civil, CML e Bombeiros) que tomassem providências, com carácter de urgência, no sentido de acautelar os bens e a segurança destes Cidadãos. A única resposta que obtivemos foi da Governadora Civil de Lisboa, que remeteu o nosso email para a administração da EP. Funciona bem o vosso estado de direito!

Para os fans do direito português fica aqui um exemplo prático de como (não) funciona:

EP faz um “Pedido de Alteração da Declaração de Impacte Ambiental” à Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) - 16/01/2008. SEA envia esse “Pedido de Alteração da Declaração de Impacte Ambiental” à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) - 25/01/2008. APA solicita a elaboração de um parecer ao LNEC – 6/03/2008. Parecer Técnico do LNEC: Quanto à ”revisão da condicionante da DIA referente “Á implementação da Solução Túnel prevista no projecto de execução para o troço entre o km 0+675 e 1+700”, o LNEC refere que “a APA deverá analisar a necessidade da sua revisão” (ou seja, reprovado!) - Julho/2008. APA com base no parecer do LNEC submete à consideração superior proposta de alteração da DIA – 30/07/2008. Despacho do SEA - “Alteração à Declaração de Impacte Ambiental (DIA)” – 1/08/2008. Passaram-se 8 meses a tentar abafar e mascarar uma ILEGALIDADE.

Resumo: O Governo e as Estradas de Portugal, sabendo que o actual projecto adjudicado e em execução do último troço da CRIL é ILEGAL por violar a DIA, procura a todo o custo legalizar esta violação. Sabendo que a APA não subscreveu esta violação, tendo emitido pareceres que referem o incumprimento da DIA, e isto após a “Apreciação da Avaliação Ambiental das Alterações ao Projecto” ocorrida em Novembro de 2006, a EP vem agora tentar enganar o LNEC numa legitimação servindo-se da credibilidade de imagem dessa instituição. Todavia, no LNEC, também o processo tropeça, já que o LNEC recusa-se a assumir que a proposta de abertura de 310m (vala aberta onde está a minha casa) e o alargamento com a introdução da 4ª via (e completagem do nó da Damaia) não tenha qualquer influência ambiental. O que é mais extraordinário, é que o LNEC remete esta decisão da alteração da DIA para a APA, quando sabe que esta, já assumiu que a referida abertura e também o alargamento, constituem violações ao primeiro ponto da DIA.

Conclusão: a Secretaria de Estado do Ambiente exarou o seguinte despacho: “Visto. Emiti a alteração da DIA em conformidade com os ajustes que lhe foram introduzidos no meu Gabinete.”., que altera a DIA em vários pontos, menos o ponto pretendido pela EP. Isto demonstra a ILEGALIDADE do projecto que se encontra em execução, pelo que a EP tem agora a certeza de que a ILEGALIDADE em que tem trabalhado, vai colocá-la, cada vez mais, exposta à acção fiscalizadora da população, do Parlamento e dos tribunais.

Conclusão pessoal:

Esta é a vossa concepção de estado de direito? Não é a minha e nem a que está na
wikipedia (leiam e confirmem). Quando é o próprio governo e os seus dirigentes máximos a trapacear a lei que os regem, de modo a enganar as populações que deveriam servir, não estamos a falar de um estado de direito.

Um dia quando a vossa bela casinha ou a lojinha dos vossos pais for demolida para construir uma lixeira ilegal mas “ambientalmente pioneira e desenhada milimetricamente” (argumentos apresentados pelo próprio Socrates e companhia para esta CRIL), mesmo tendo vocês recorrido a todos os meios de direito para impedir esse crime, talvez mudem de opinião e vejam o estado português com outros olhos. Ate lá a minha família “só” vai ter que viver mais uns quantos anos em pèssimas condiçoes, ou mesmo o resto da vida, enquanto espero pelo vosso estado de direito.

Tenho a afirmar que isto não é uma excepção à regra mas sim algo que acontece de um modo cada vez mais recorrente. O facto de vocês não terem conhecimento de tal não invalida a sua elevada frequência. Referi aqui só os acontecimentos mais recentes e não fui para as outras ilegalidades cometidas anteriormente, senão teria que escrever muitas mais páginas. De imagens virtuais alteradas, a foto montagens enganosas até a relatórios falsificados sobre património arquitectónico houve!

O traçado da CRIL vai afectar 150.000 habitantes devido a interesses privados escandalosos e este é apenas o caso de uma rua. Com as restantes ruas e em futuras obras vai correr tudo bem e segundo a vossa noção de estado de direito? Não me façam rir! é facil falarmos em cafés e escrevermos em blogs, mas quando a realidade nos toca o caso muda muito de figura e abrimos os olhos. A minha casa já foi demolida e a vossa? Quando será?
Ricardo, un portoghese a Genova.

P.S. Nao se esqueçam de ver as imagens. Quando tiver as fotos do pessoal a assaltar os quintais e as casas dos moradores ponho no blog. Até là se quiserem saber mais vejam os links:


Foto 1 - A policia "apenas a cumprir ordens" num estado de direito. A minha mae està de azul.

Foto 2 - O desespero da populaçao ao ver a demoliçao dos seus lares

Foto 3 - O nao cumprimento das leis de direito apòs as demoliçoes. De referir que estas habitações se encontram a uma cota mais baixa em relação ao terreno (cerca de 1,5m a 3m). Apòs as chuvadas verificaram-se vàrias inundaçoes.

domingo, 2 de novembro de 2008

Estado do Direito

Há muito que se discute se vivemos num Estado de Direito; a discussão já é antiga, já por aqui passou (por exemplo) e deve continuar a passar, de tão salutar que é.

Mas a discussão que me preocupou nos últimos dias foi: em que estado está o Direito em Portugal?
Também não é nova, levanta-se muito mais vezes do que as desejáveis, mas veio-me à cabeça a propósito da discussão das condições da carreira militar em Portugal.
Aliás, como basicamente deveríamos estar a discutir seriamente as condições de 99,9% das diversas carreiras profissionais em Portugal, diga-se.

Os sinais de falta de bom funcionamento do nosso Estado de Direito têm sido bem significativos e alguns deles já Descentralizados. Mas para mim, que estando à distância me é difícil ter acesso às pequenas grandes questões de Portugal, que são exactamente os mais comuns e importantes mecanismos do Estado a não funcionar, este acontecimento chamou-me e muito à atenção.

Será tudo isto sensacionalismo?

Será que são infames os rumores que há muito correm pela sociedade portuguesa, que a Revolução dos Cravos (refiro-me ao acto em si, à forma como foi feito, e não à ideologia ou ao conceito que lhe estava inerente e que mais tarde ou mais cedo, não tenho dúvidas que se faria materializar) apenas aconteceu porque uma classe militar, a dos Capitães, não era suficientemente recompensada, e apoiando-se na geral e evidente insatisfação social, agiu sem que as patentes superiores as conseguissem conter?

Não sei; o que sei é que desta vez parece que todas as classes militares se queixam.

Será que desta, em vez de cravos, vêm rosas com espinhos?

Pessoas teoricamente experientes, conhecedoras da realidade em causa e ainda por cima, que já exerceram funções de topo na gestão dessas mesmas classes, admitem que “a postura generalizada dos militares é uma sólida disposição, melhor, determinação, de não perturbar a normalidade democrática, já que é insuspeita a sua devoção ao regime, para cuja implantação tiveram contribuição decisiva. Mas a angústia provocada por situações de dificuldade, associada ao sentimento de que são objecto de injustiça relativamente à forma como são tratados profissionais da administração pública a que são equiparados, cuja persistência lhes parece absolutamente incompreensível, poderá conduzir a actos de desespero, capazes de gerar consequências de gravidade, que julgaríamos completamente impossíveis de voltar a acontecer” (Sr. GLS).

Será que o senhor também está a ser mal pago?

Sinceramente acho este tipo de declarações públicas, vindo de quem vêm, correm o risco de ser entendidas como um incentivo para os tais mais jovens, que “são os mais generosos de todos nós, mas são também os mais sensíveis a injustiças, os mais corajosos e destemidos, os mais puros nas suas intenções, os mais temerários (muitas vezes imprudentes)” (Sr. GLS).

Imprudente é o Sr. General José Alberto Loureiro dos Santos que tendo sido Chefe do Estado-Maior do Exército (1991 a 1992), que de forma tão descontraída e segura, caracteriza a nossa democracia como “avançada e madura” e “que não convém estragar”, se precipita dizendo coisas como: [Presidente da República e primeiro-ministro] leiam com atenção os sinais que saem da instituição e ajam, sem demora, em conformidade.

Em conformidade com quê?

Com a situação da falta de qualidade de vida da MAIORIA das classes profissionais/sociais portuguesas? Ou com a situação dos senhores militares, que só porque têm acesso a brinquedos de adultos sem juízo, em momentos de maior imprudência poderão fazer parvoíces?

Será que estou a ser sensacionalista?

Da ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE SARGENTOS, nos seus comunicados n.º 11 / 2008 – “A ANS afirma-se pelos Direitos!”, n.º 12 / 2008 – “Vencimentos e Dignificação”, e n.º 13 / 2008 – “À Atenção do Governo Português!”, este último de 27 de Outbro de 2008, apercebo-me da sua postura reivindicativa, firme e unida até que a Lei se cumpra, mas em nenhum ponto tão ameaçadora como a postura do Sr. GLS.

No auge da discussão, calculo que aquando do ENCONTRO NACIONAL pela DIGNIFICAÇÃO da FAMÍLIA MILITAR no dia 18 de Outubro de 2008 (sinceramente não me apercebi do seu real impacte social), o Expresso falou com a socióloga Helena Carreiras, especialista em temas militares, que apesar de alertar para a gravidade da situação, quando confrontada com a pergunta “Era possível um retrocesso para uma posição mais dura, quer dizer, os militares fartarem-se de reclamar ordeiramente e usarem as armas?”, responde: “Teoricamente, é possível estamos sempre a ser surpreendidos pela história com coisas que não antecipávamos, mas não acredito. Apesar de haver muita insatisfação - que deve merecer toda a atenção - não estão reunidas condições de tal maneira gravosas para isso. Significaria que os militares não teriam incorporado uma cultura democrática, e eu penso que fizeram. (…) Acredito que seriam os próprios militares os primeiros a impedir qualquer tentativa dos seus membros de violarem este contrato social e político.”

Pois olhe que se calhar não Sra. HC; se calhar os militares ainda não incorporaram assim tão bem essa tal cultura democrática.

É que entretanto, além da ANS já se ter unido à Associação dos Oficiais das Forças Armadas e aproveitado a onda gerada pelo Sr. GLS, endurecendo o discurso, veja só a resposta que o Sr. GLS parece ter feito questão de lhe enviar.

A si, ao Primeiro Ministro, ao Presidente da República, a mim, ao resto dos portugueses e possivelmente (digo eu e o meu mau feitio, mas espero muito sinceramente estar enganado) aos “mais generosos”, “mais sensíveis a injustiças”, “mais corajosos e destemidos”, “mais puros nas suas intenções”, “mais temerários” e “muitas vezes imprudentes”, jovens militares portugueses:

Costuma afirmar-se, e bem, que a nossa democracia, reforçada pela presença de Portugal na União Europeia, se tornou numa garantia de que os golpes militares não regressam. O que terá contribuído para o confortável sossego dos responsáveis políticos perante as vozes de alerta que se têm ouvido acerca do que preocupa os militares. E terá mesmo justificado a sua apatia, não agindo em conformidade com o dever de tratar os militares com o respeito e a dignidade que merecem, em consonância com as funções que o país lhes atribui nas situações mais difíceis e perigosas.” (…) “Convém não nos julgarmos blindados contra situações desagradáveis que possam vir a surgir, nem que insistamos em pensar que acontecimentos (funestos) do passado não voltam a acontecer".

As perguntas que se me impõem são:

Será que tudo está bem? E que isto não passam de desaguisados…
Será que tudo está mal, mas ninguém pode fazer nada?
Será que tudo está mal e que alguém, de forma democrática e de Direito, pode fazer alguma coisa?
Ou será que tudo está bem, até os senhores militares, que podem fazer alguma coisa (de forma abusiva, mas podem) começarem a mandar umas bocas?